sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Editorial - Omissão genocida

 BAHIA| Salvador



Insistir na crença do negacionismo, como convencionou-se dizer da postura de quem nega os efeitos e a necessidade de proteção contra a pandemia, não é possível, exceto se há déficit cognitivo ou torpeza de caráter de quem defende obstinadamente tal absurdo.

A Sociedade de Medicina do Rio, símbolo de amor pela vida, própria da natureza da instituição, chama à consciência o cidadão hesitante, em relação à omissão comparável a política genocida, agravada pelo deboche de quem deveria liderar a luta.

Em nota distribuída para lamentar a morte do médico Ricardo José Lopes da Cruz, a honorável sociedade afirma não haver como aceitar as inações cujo balanço parcial, em breve, será a subtração de 200 mil brasileiros.

Os argumentos de quem tenta encontrar razões para a ausência de uma política efetiva de combate à pandemia esvaem-se diante de dados relevantes, desde o incentivo a aglomerações, o armazenamento de testes e as dificuldades criadas para o uso da vacina.

Na comunicação de pesar, a Sociedade de Medicina do Rio toma posição crítica, ao defender uma reflexão, além da perda precoce de um dos mais brilhantes cirurgiões de sua geração. Os médicos denunciam a percepção errônea da sociedade de extinção próxima da pandemia, levando a um relaxamento das normas de distanciamento social, com o consequente aumento da transmissão comunitária do Sars-CoV-2.

Tal percepção, sem base científica, teria sido coonestada pela política homicida implementada por autoridades, ao trocarem votos e apoios por propostas indulgentes e sedutoras. Fica demonstrada, de acordo com os médicos, a irresponsabilidade da proposta de aumento dos números de leitos em UTI pela liberação de eventos e situações contribuintes para o agravamento do problema.

A sociedade aponta a suposta fraude na narrativa de o quantitativo de vagas tornar-se parâmetro para flexibilizar ou não a abertura dos estabelecimentos, pois apesar da possibilidade de vacina, é o distanciamento o meio seguro de evitar a infecção.